No Congresso Internacional de Óptica de Raios X e Microanálise (ICXOM21, sigla em inglês), realizado entre os dias 5 e 8 de setembro, em Campinas, três pesquisas importantes mostraram como o uso da Luz Síncrotron pode contribuir para o conhecimento nas áreas das Artes, História e Paleontologia. O Congresso foi organizado pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).
A cientista Marine Cotte, PhD em compostos químicos utilizados na Antiguidade, explica que o caráter não-invasivo da radiação Síncrotron, associado à sensibilidade química desta tecnologia, permite análises profundas de materiais complexos, cheios de camadas, como são as obras de arte. Por meio de técnicas como a Espectroscopia de Absorção de Raios X (XAS, sigla em inglês), é possível obter informações sobre estado químico e composições locais dos objetos analisados, além de rastrear elementos químicos nocivos para as obras.
O uso desta técnica pode revelar duas “histórias”. A primeira remonta à época em que a obra de arte foi produzida. É possível, por exemplo, observar as diferentes camadas da pintura e identificar todas as substâncias que compõem os pigmentos das tintas utilizados. Com isso, pode se entender melhor – ou, até mesmo, resgatar – técnicas utilizadas por artistas antigos, preservando a herança de uma cultura. A segunda história é atual e diz respeito ao avanço nas formas de restauro e conservação dessas peças de arte: conhecendo a composição química das pigmentações é possível evitar reações indesejadas ou identificar aquelas que mantêm a obra conservada.
Nesta mesma perspectiva, o professor PhD em Química Analítica, Koen Janssen, focou parte de seu trabalho na análise da degradação da cor amarela nas pinturas do artista holandês Vincent Van Gogh. Utilizando a radiação Síncrotron, Janssen pôde observar em escala nano a formação de óxido de cromo ao redor das pigmentações originais, o que denotavam um envelhecimento da pintura.
Para o pesquisador, a utilização do Síncrotron permite análises em nível micro e nano, e pode levar a distintas conclusões. Em escala nanométrica, pode ser útil para restauradores identificarem os elementos químicos que surgiram junto às pinturas e porque eles se misturaram ao pigmento original. Em nível micro, por sua vez, é possível observar as camadas escondidas pela tinta, salientando o traço do pintor. Historiadores podem utilizar este tipo de análise para comparar a evolução das técnicas de pintura e comprovar a originalidade das obras.
Imagens 3D na Paleontologia
Outra vertente de pesquisa com Luz Síncrotron pode contribuir para montar um quebra-cabeça com muitas peças ainda ausentes. Na paleontologia, em que as informações estão espalhadas em espécimes isoladas, é difícil encontrar os elos perdidos na cadeia evolutiva. Para a pesquisadora Isabelle Kruta, do Museu de História Natural da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, o uso de imagens 3D vem sendo uma ótima solução para a área.
Recentemente, um artigo seu publicado na revista Science mostrou a reconstituição digital da mandíbula de um fóssil de molusco da espécie Baculites. Este molde em 3D só foi possível com o uso de técnicas de tomografia com radiação Síncrotron em fósseis da concha e vestígios de dentes desta espécie. Numa destas amostras, os pesquisadores encontraram restos de plânctons incrustados, o que mostrava que o animal morreu durante sua última refeição.
Para Kruta, este tipo de análise ajuda os cientistas a encontrar vestígios e substâncias que não são visíveis a olho nu. Isto pode resultar em descobertas sobre a relação entre organismos, um passo mais profundo no estudo da Ecologia.
A 21ª edição do Congresso Internacional de Óptica de Raios X e Microanálise (ICXOM21), o primeiro realizado na América Latina, contou com 150 pesquisadores de diversas partes do mundo. “O Brasil foi escolhido por ser o único país do continente a abrigar fonte de Luz Síncrotron. Além de desenvolver pesquisas básicas e aplicadas em óptica de raios-X na fronteira do conhecimento, o LNLS iniciou o projeto de construção de uma nova fonte de Luz Síncrotron – Sirius – que possibilitará à comunidade de usuários do Brasil e América Latina o acesso a novas técnicas de exploração científica e o desenvolvimento nacional de instrumentação científica e novas tecnologias em um novo patamar de complexidade”, afirma Carlos Perez, coordenador do Congresso.
Repercussão:
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A cientista Marine Cotte, PhD em compostos químicos utilizados na Antiguidade, explica que o caráter não-invasivo da radiação Síncrotron, associado à sensibilidade química desta tecnologia, permite análises profundas de materiais complexos, cheios de camadas, como são as obras de arte. Por meio de técnicas como a Espectroscopia de Absorção de Raios X (XAS, sigla em inglês), é possível obter informações sobre estado químico e composições locais dos objetos analisados, além de rastrear elementos químicos nocivos para as obras.
O uso desta técnica pode revelar duas “histórias”. A primeira remonta à época em que a obra de arte foi produzida. É possível, por exemplo, observar as diferentes camadas da pintura e identificar todas as substâncias que compõem os pigmentos das tintas utilizados. Com isso, pode se entender melhor – ou, até mesmo, resgatar – técnicas utilizadas por artistas antigos, preservando a herança de uma cultura. A segunda história é atual e diz respeito ao avanço nas formas de restauro e conservação dessas peças de arte: conhecendo a composição química das pigmentações é possível evitar reações indesejadas ou identificar aquelas que mantêm a obra conservada.
Nesta mesma perspectiva, o professor PhD em Química Analítica, Koen Janssen, focou parte de seu trabalho na análise da degradação da cor amarela nas pinturas do artista holandês Vincent Van Gogh. Utilizando a radiação Síncrotron, Janssen pôde observar em escala nano a formação de óxido de cromo ao redor das pigmentações originais, o que denotavam um envelhecimento da pintura.
Para o pesquisador, a utilização do Síncrotron permite análises em nível micro e nano, e pode levar a distintas conclusões. Em escala nanométrica, pode ser útil para restauradores identificarem os elementos químicos que surgiram junto às pinturas e porque eles se misturaram ao pigmento original. Em nível micro, por sua vez, é possível observar as camadas escondidas pela tinta, salientando o traço do pintor. Historiadores podem utilizar este tipo de análise para comparar a evolução das técnicas de pintura e comprovar a originalidade das obras.
Imagens 3D na Paleontologia
Outra vertente de pesquisa com Luz Síncrotron pode contribuir para montar um quebra-cabeça com muitas peças ainda ausentes. Na paleontologia, em que as informações estão espalhadas em espécimes isoladas, é difícil encontrar os elos perdidos na cadeia evolutiva. Para a pesquisadora Isabelle Kruta, do Museu de História Natural da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, o uso de imagens 3D vem sendo uma ótima solução para a área.
Recentemente, um artigo seu publicado na revista Science mostrou a reconstituição digital da mandíbula de um fóssil de molusco da espécie Baculites. Este molde em 3D só foi possível com o uso de técnicas de tomografia com radiação Síncrotron em fósseis da concha e vestígios de dentes desta espécie. Numa destas amostras, os pesquisadores encontraram restos de plânctons incrustados, o que mostrava que o animal morreu durante sua última refeição.
Para Kruta, este tipo de análise ajuda os cientistas a encontrar vestígios e substâncias que não são visíveis a olho nu. Isto pode resultar em descobertas sobre a relação entre organismos, um passo mais profundo no estudo da Ecologia.
A 21ª edição do Congresso Internacional de Óptica de Raios X e Microanálise (ICXOM21), o primeiro realizado na América Latina, contou com 150 pesquisadores de diversas partes do mundo. “O Brasil foi escolhido por ser o único país do continente a abrigar fonte de Luz Síncrotron. Além de desenvolver pesquisas básicas e aplicadas em óptica de raios-X na fronteira do conhecimento, o LNLS iniciou o projeto de construção de uma nova fonte de Luz Síncrotron – Sirius – que possibilitará à comunidade de usuários do Brasil e América Latina o acesso a novas técnicas de exploração científica e o desenvolvimento nacional de instrumentação científica e novas tecnologias em um novo patamar de complexidade”, afirma Carlos Perez, coordenador do Congresso.
fonte: Notícias do LNLS
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