Por Danielle Kiffer
O processo de reciclagem, além de necessário para poupar o meio ambiente após a explosão populacional planetária e o aumento da pressão sobre a demanda por recursos naturais, também pode ser fonte de lucro. Em Paraty, na região Sul Fluminense, o casal Karina Rehavia e Roberto Andrade, da empresa Ninui, desenvolveu um sistema de cultivo de alimentos integrado à criação de peixes, denominado aquaponia. O sistema permite que eles aproveitem a água utilizada no tanque onde criam tilápias para o cultivo de alface e rúcula, sem desperdício.
“Aproveitamos, diariamente, 20 mil litros de água do tanque, que normalmente seriam descartadas, para o uso na hidroponia. A água, devido aos ciclos químicos dos peixes, já vem enriquecida naturalmente, perfeita para o cultivo de verduras hidropônicas, com cálcio, potássio, ferro, amônia, calcário”, afirma Roberto de Andrade. O projeto teve apoio da FAPERJ por meio do edital Modelos de Inovação Tecnológica Social e contou com a assessoria técnica de Cristiane Zanella, engenheira de aquaponia formada pela Universidade federal de Santa Catarina (UFSC).
O empreendimento ocupa um terreno de 3.900 metros quadrados, com nascente natural, no bairro de São Roque, a cerca de 20 quilômetros do centro de Paraty. Ali, Roberto, Karina, Cristiane e o aquicultor Ubiratan Galarça, parceiro do projeto, prepararam a área para a instalação do tanque dos peixes e três estufas de hortaliças – duas com alfaces e uma com rúculas –, onde são produzidos cerca de 4.200 pés de verduras por mês. “A água que vem do tanque dos peixes é completa do ponto de vista nutricional. Apenas no verão é necessário adicionar um pouco mais de ferro à água, mas nada além disso”, diz o empreendedor. O tanque dos peixes, de 80 mil litros, abriga atualmente cerca de quatro mil tilápias da variedade Supreme. “Escolhemos essa espécie pois, além de ser uma carne com grande aceitação comercial, é um peixe em que nada se desperdiça, desde a pele até as vísceras”, conta Roberto.
Os empreendedores estão se organizando para, após a limpeza dos peixes, fazer a doação do couro (pele) das tilápias para artesãs da comunidade do Salgueiro, no município de São Gonçalo, vizinho à Niterói. Este grupo de mulheres recebe apoio do Instituto Genesis, da PUC-RJ, Incubadora Social parceira da Ninui em um projeto de capacitação digital com estas artesãs. “Com esse material, as artesãs poderão fazer uma gama variada de produtos, desde bijuterias até bolsas”, conta Roberto. Com a carne, os empreendedores preparam o filé e, com as vísceras, vão produzir, a partir de janeiro, bolinhos, salsichas e linguiças de peixe. Da carcaça da tilápia, que é moída, são feitas rações para peixes e adubo para a agricultura.
O tanque dos peixes é dividido por redes, em seis partes diferentes, chamadas tanques-rede. Os peixes são inicialmente separados por sexo, por causa da relação predatória e cada uma das divisões contém peixes em estágios diferentes de tamanho e peso, o que permite ciclos permanentes de produção. “É um processo muito trabalhoso. Temos que monitorar o tanque praticamente o dia inteiro, pois é fundamental que a temperatura da água esteja ideal para que os peixes sobrevivam e procriem de forma adequada”, explica o empreendedor.
Uma das metas de Karina Rehavia e Roberto Andrade agora é transmitir as técnicas empregadas no cultivo desse peixe de água doce à comunidade local, e, ao mesmo tempo, expandir seu bem-sucedido modelo de negócio. Para tanto, eles estão fechando um convênio com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater-Rio) e com a Prefeitura de Paraty, a fim de ensinar aos moradores as técnicas da piscicultura e da aquaponia. “Queremos que eles valorizem suas terras, repletas de fontes naturais e com um mercado consumidor amplo. Isso, certamente, evitaria o êxodo e a desemprego nas cidades maiores”, analisa o empreendedor. “Queremos motivar os moradores da região com terras próprias a desenvolver seus próprios pólos de produção”.
O casal de empreendedores está neste momento organizando ações junto a escolas da região para que os jovens também tenham a chance de conhecer este modo de produção, que rende lucros e respeita a natureza. “As crianças quando vêm aqui ficam muito empolgadas e relutam em ir embora. Isso é importante, pois mostramos a essas crianças que, além da importância do respeito com o meio ambiente, é possível que elas cresçam e desenvolvam uma atividade profissional nas terras em que foram criadas. É um novo futuro que mostramos”, finaliza Roberto.
A Ninui, empresa responsável pelo desenvolvimento do Aquaponia, desenvolve na região um outro projeto, também beneficiado pela FAPERJ, denominado Projeto Caico – Capacitação Digital para Inclusão Comercial de Comunidades Tradicionais Caiçaras, Indígenas, Caipiras e Quilombolas. Mais informações no blog do projeto: www.ninui.com/blog
fonte: Boletim da FAPERJ
2 comentários:
Ótimo post, muito interessante mesmo.
Parabéns pelo blog, muito sério e com ótimo conteúdo!
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