domingo, 27 de fevereiro de 2011

Quando o perigo está dentro de casa

Por Débora Menezes Alcântara*
Trecho extraído de A Tarde


Avenida Sete de Setembro, uma da vias mais movimentadas da capital baiana. Entre as mercadorias artesanais, made in China e do Paraguai exibidas pelos ambulantes, em pleno passeio público, tabuleiros com pequenos frascos de um granulado cinzento são anunciados como "mata-rato" ou "cheirou-morreu". Esta substância explicitamente banalizada, chamada “chumbinho”, na verdade, é um produto altamente tóxico, proibido por lei, mas de aquisição fácil e barata.


Utilizado por grande parte da população como raticida, o “chumbinho”, feito à base do agrotóxico Temik-150, também tem sido a causa de graves casos de intoxicação acidental, principalmente por crianças e animais, ou mesmo proposital, tanto por suicidas como por homicidas.

O fato é que a substância Albicard, comercialmente conhecida como Temik-150, jamais foi desenvolvida para ser um raticida e não existe indicação para que ela seja aplicada no meio urbano. O agrotóxico é um inseticida e larvicida sistêmico, usado nas lavouras. Apesar de ser considerado um potente e eficiente raticida, o chumbinho é incapaz de dizimar todos os ratos de uma mesma área. O toxicologista do Centro de Informações Anti-veneno da Bahia (Ciav), Osvaldo Santana, explica que o animal vive de forma agregada, em colônias. Os mais velhos se alimentam primeiro. Quando morrem, os mais jovens evitam o alimento contaminado e se mudam para as tocas vizinhas. A partir disso, eles tendem a se reproduzir mais intensamente para compensar o déficit de agregados. "É um modo inteligente de sobrevivência destes animais", comenta o médico. Ele explica que os venenos legalizados, os chamados cumarínicos, apesar de matar mais lentamente, são mais eficientes, porque os ratos levam o alimento para a colônia e não percebem que estão sendo envenenados. "Eles apresentam hemorragias internas e quando os primeiros morrem, os outros já foram contaminados", explica.

Desproteção - No homem, o Albicard, que é o teor ativo do chumbinho, funciona como um inibidor de uma enzima vital para o organismo, chamada colesterase, que tem a função de degradar o chamado acetil colinesterase, uma substância tóxica produzida pelo próprio organismo humano. Em grande acúmulo, a substância pode ser letal. "O veneno desprotege o organismo", informa Osvaldo Santana. Os sintomas decorrentes da intoxicação são vômitos, sudorese, estreitamento da pupila, visão turva, salivação excessiva, batimentos lentos do coração, dor abdominal, aumento de secreções nos brônquios e tremores involuntários. O toxicologista informa que, quando as vítimas não morrem, ficam com seqüelas neurológicas graves.

Cães e gatos - Os animais de estimação são as vítimas mais comuns do chumbinho. De acordo com a médica-veterinária do Hospital de Veterinária da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Genice Farias, cerca de 50% dos animais contaminados morrem ao chegar na unidade, sem tempo de serem tratados. "Em épocas de chuva há uma incidência maior de casos de envenenamento. As vítimas mais recorrentes são gatos", informa Farias, explicando que nesta época a população de ratos aumenta e o uso de raticidas também. "Cães e gatos são atraídos pelo cheiro do alimento contaminado, usado como isca, e acaba se envenenando", conta a médica-veterinária.

*Débora Menezes Alcânrara é jornalista

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