quarta-feira, 11 de maio de 2011

O que nós vamos fazer com o lixo?

O debate sobre o que fazer com as quantidades cada vez maiores de lixo produzidas no País tem ganhado destaque tanto na agenda política quanto na elaboração de políticas públicas no Brasil. 

Ano passado, o governo federal sancionou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei 12.305 de 2 de agosto 2010), que dispõe, entre outras coisas, que até 2014, todos os municípios brasileiros deem destino adequado a tudo aquilo que puder ser reaproveitado por algum processo de recuperação, reutilização ou reciclagem do lixo. 

Inaugurado recentemente, o aterro de Seropédica promete ser solução para lixo que antes era enviado para o aterro de Gramacho. Divulgação/Ciclus Ambiental
Entretanto, para a pesquisadora e professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Adriana Schueler, há um trabalho enorme a ser feito para que a meta federal seja alcançada em tão pouco tempo. Depois do pós-doutorado realizado no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), concluído com apoio da FAPERJ, Adriana atualmente pesquisa, com apoio do Programa de Auxílio à Instalação (INST), da Fundação, a utilização de indicadores de sustentabilidade ambiental tanto no fechamento quanto na criação de aterros sanitários. 

A pesquisadora da UFRRJ explica que, no Brasil, metade do total de resíduos sólidos urbanos gerados é despejado de forma inadequada em vazadouros a céu aberto popularmente conhecidos como ‘lixões’, em áreas alagadas, aterros controlados e locais não fixos. "Em muitos casos, o produto da decomposição do lixo é drenado diretamente para rios próximos do aterro, o que causa danos ambientais e afeta a saúde das populações de seu entorno", completa. Ela ainda destaca a questão das desigualdades econômicas da sociedade brasileira como fator gerador de diferenças de consumo. "O que é resíduo para uns pode ser objeto de consumo para outros. Certamente, se trabalharmos de forma mais organizada, a reutilização de produtos será mais intensa e com melhores resultados", destaca. 

Entre as melhores e mais modernas técnicas a serem utilizadas na reciclagem do lixo, Adriana destaca o reuso dos rejeitos da construção civil e de sua utilização na própria construção e da transformação do lixo em energia. "Os resíduos da construção civil frequentemente são descartados de maneira inadequada. Só recentemente têm sido implementados procedimentos de reciclagem de resíduos da construção industrial em centros de reciclagem de resíduos de maiores dimensões", afirma. "No município de Cantagalo, na região serrana fluminense, pude participar de um trabalho junto com a equipe de pesquisadores do Grupo de Estudo em Tratamento de Resíduos Sólidos (GETRES), da Coppe/UFRJ. A  empresa cimenteira Lafarge vem empregando, a partir da pesquisa, resíduos urbanos sólidos como fonte energética para a produção de cimento", completa.

A transformação do lixo em energia, já utilizada nos países ricos, seria uma das alternativas para dar destino aos resíduos. Divulgação/Inspector Engenharia
 A pesquisadora da UFRRJ afirma que até o momento, em todo o Brasil, apenas o estado de São Paulo tem um sistema organizado de avaliação de tratamento e locais de disposição de resíduos. "Os outros estados usam avaliações subjetivas, nem sempre confiáveis. Assim, alguns lixões acabam sendo avaliados como aterros controlados, de acordo com a conveniência", destaca a pesquisadora. Ela acrescenta que a maior parte dos locais destinados ao recolhimento e tratamento do lixo em todo o País são aterros controlados, que muitas vezes não passam de versões melhoradas dos antigos lixões – enormes terrenos baldios onde o lixo era jogado a céu aberto sem tratamento adequado –, com algumas iniciativas de gestão dos resíduos. "O problema é que um aterro controlado, aparentemente em bom estado, pode transformar-se em lixão rapidamente, caso haja falhas gerenciais", alerta.

Adriana explica que a PNRS aponta para que os aterros sirvam apenas para receber o rejeito dos resíduos, ou seja, aquilo que não serviu a nenhum outro tipo de tratamento. "A ideia é que todos os resíduos passem por uma das várias outras formas de tratamento, como reciclagem, compostagem, fermentação anaeróbia, tratamento térmico e recuperação energética", explica. Para ela, as baixas taxas de reciclagem e a falta de incentivo organizado e objetivo por parte dos governos também são pontos que contribuem para a falta de uma destinação adequada ao lixo urbano sólido no Brasil. A pesquisadora acrescenta que o apoio governamental ocorre apenas na fase de separação, por meio do incentivo dado às cooperativas de catadores de lixo. "Mas esse é apenas o estágio inicial. Para que a reciclagem ocorra, será necessária a implantação de um sistema industrial organizado, como já ocorre no caso do alumínio, do plástico e do papel", adverte.

Estado do Rio irá quintuplicar número de aterros sanitários

Especialista em saneamento ambiental, coordenador do GETRES e ex-orientador do projeto de pós- doutorado de Adriana Schueler na Coppe/UFRJ, Cláudio Fernando Mahler destaca que, nos últimos oito anos, o estado do Rio tem obtido ganhos na busca de uma destinação adequada ao lixo. "Até 2002, o estado estava muito mal nesta área, quando então recebemos nosso primeiro aterro verdadeiramente sanitário: O Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense", recorda Mahler. No dia 20 de abril foi inaugurado mais um local nestas condições: o CTR Santa Rosa, no município de Seropédica, que será operado pela mesma empresa que opera o aterro de Nova Iguaçu. Pode-se dizer que isso é uma garantia de qualidade. O local foi construído como uma alternativa ao fechamento do Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias – espaço para onde anteriormente eram destinadas as cerca de nove mil toneladas de lixo produzidas por dia somente nas cidades do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias. "Em breve, deveremos aumentar esse número  com a construção dos três aterros sanitários que já estão quase concluídos nos municípios de Barra Mansa, Itaboraí e São Gonçalo", complementa.

O pesquisador Cláudio Mahler também destaca a necessidade de um debate mais franco entre as universidades e as empresas que administram os aterros sanitários. Para ele, quando um aterro sanitário é instalado numa região, a população do seu entorno ganha um problema. "Cabe às prefeituras locais, às universidades e instituições de pesquisa sentarem, conversarem e verem os benefícios que possam adquirir. Há espaço para negociação, de maneira que todos ganhem algo, e não somente a administradora destes espaços", defende Mahler. "Afinal, a sociedade toda produz lixo. Por que somente um pequeno grupo tem que administrar esses resíduos e lucrar com isso, em detrimento da maioria da população?", conclui.

fonte: Boletim FAPERJ

Um comentário:

Biianca disse...

Poxa, tava vendo hoje na Disc. São Francisco na Califórnia, é a cidade que mais recicla seu lixo(60% dos resíduos vão para os centros de reciclagem).

De qualquer forma, eu acho que de nada adianta tantas metas para áreas adequadas pros resíduos, e tantos projetos de reciclagem...se a cada dia nós só produzimos mais e mais lixo.

A educação ambiental tem que começar cedo, e não quando tudo já tomou rumos tão problemáticos.

O lixo é um dos problemas atuais mais sérios que o mundo enfrenta, e se todos produzimos, acho que cada um tem que fazer sua parte =)

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