sábado, 19 de março de 2011

Uma descoberta: lendo A escrava que não é Isaura

Por Luiz Lopes*
De Curvelo/MG

Acho que todo professor de Literatura brasileira em algum momento já citou em sala de aula o texto A escrava que não é Isaura, de Mário de Andrade. Eu sempre citei-o, mesmo não tendo lido, como forma de explicar a crítica dos modernistas ao pensamento e à estética romântica. Esta semana em meio ao tumulto das mudanças e o corre-corre da “via sacra” ( meus percursos semanais: Curvelo-B.H.-Divinópolis), me deparei enfim com o livro de Mário na biblioteca do CEFET. Não hesitei e tomei-o em minhas mãos.


Assim que abri o livro que há anos gostaria de ter lido, leio o seguinte: “Começo por uma história. Quase uma parábola. Gosto de falar por parábolas como Cristo... Uma diferença essencial que desejo estabelecer desde o princípio: Cristo dizia: “Sou a verdade”. E tinha razão. Digo sempre: “Sou a minha verdade”. E tenho razão. A verdade de Cristo é imutável e divina. A minha humana, estética e transitória. Por isso, mesmo jamais procurei ou procurarei fazer proselitismo. É mentira dizer-se que existe em S. Paulo um igrejó literário em que pontifico. O que existe é um grupo de amigos, independentes, cada qual com suas ideias próprias e ciosos de suas tendências naturais. Livre a cada um de seguir a estrada que escolher. Muitas vezes os caminhos coincidem...Isso não quer dizer que haja discípulos pois cada um de nós é o deus de sua própria religião”.
  
É claro que fiquei apaixonado por algumas questões que o texto deixa entrever. A primeira é que a literatura encena uma verdade transitória, um discurso que coloca em foco a possibilidade de uma verdade porosa, ou seja, algo que constantemente precisa ser reavaliado. Talvez, essa premissa do texto tenha ficado muitas vezes no papel, mas o simples fato de ela ser referida já faz do texto um importante lugar para se revisitar. A ideia de que em se tratando de literatura não é possível dogmas, discípulos e outros similares é outro dado interessante do trecho mencionado. Quando os discursos críticos tentam engessar o texto literário, um autor ou um objeto estético, vale a pena voltar ao Mário, sempre presente.

**Luiz Lopes é professor de lingua portuguesa do CEFET/MG e edita o blog Caderno de Caligrafia.

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