terça-feira, 14 de junho de 2011

Brasil e Suécia estabelecem parceria em tecnologia e inovações

Por Fabrício Marques e Marcos Oliveira

Créditos: Eduardo Cesar
O Brasil e a Suécia devem estabelecer novas parcerias no campo da tecnologia e da inovação, sob a articulação de uma instituição sediada em São Bernardo do Campo (SP) que vai coordenar a ação de pesquisadores, empresas e governos dos dois países. O Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb) foi criado oficialmente em maio, por iniciativa da multinacional Saab, na visita que o premiê sueco Fredrik Reinfeldt, fez ao Brasil. Segundo Charlotte Brogren, diretora-geral da agência sueca de inovação Vinnova, uma das parceiras do Cisb, os próximos dois anos serão fundamentais para avaliar o potencial das colaborações, que terão foco nas áreas de energia e meio ambiente; transporte e logística; e defesa, aeronáutica e segurança.

 “Os dois países têm um histórico de parcerias impulsionadas por grandes empresas suecas com presença em regiões industriais brasileiras, principalmente São Paulo. Agora, os governos querem tornar essa parceria mais organizada e temos identificado um bom número de oportunidades. Nosso desafio hoje é transformar as oportunidades em projetos reais”, diz Charlotte, 48 anos, engenheira com PhD na Universidade de Lund, que fez carreira em centros de pesquisa e desenvolvimento de empresas – seu trabalho anterior foi na companhia ABB Robotics. Desde 2009 ela está no comando de uma agência que busca articular a ação de universidades e empresas na criação de tecnologias sustentáveis com aplicação promissora. A cada ano, a Vinnova investe 220 milhões de euros em projetos – que exigem contrapartida financeira equivalente dos parceiros. A seguir, leia trechos da entrevista concedida por Charlotte Brogren em sua passagem pelo Brasil (veja também reportagem "Benefícios mútuos").

Quais são as suas expectativas sobre o Cisb no curto e no médio prazo? Como a cooperação entre Suécia e Brasil poderá ser desenvolvida?

Eu ainda não sei a resposta. Podemos começar falando sobre por que precisamos colaborar, por que temos acordos de colaboração bilateral. É porque podemos ter benefícios mútuos da colaboração. Você e eu temos pontos fortes e fraquezas e juntos podemos avançar mais do que se estivermos sozinhos. Na área de energia, na área de tecnologia de informação, na área de transportes. Com a competição global que temos hoje, é quase impossível para um país sozinho ou uma empresa sozinha fazer tudo por si só, pois o tempo para o desenvolvimento de tecnologias é cada vez mais curto. Então é preciso formar alianças. Brasil e Suécia têm um histórico de colaborações. São Paulo é um polo industrial que abriga empresas suecas. Agora buscamos tornar essa colaboração mais estruturada. Temos feito discussões nesse sentido, estivemos juntos no que chamamos de Laboratório de Inovação, em mesas redondas, em discussões envolvendo a academia, os cientistas, o setor público. Isso levou a uma discussão sobre que tipo de possibilidades nós enxergamos e quais são os obstáculos. Delegações dos dois países aprofundaram esses tópicos e agora atingimos essa etapa, que pretendemos ser um ponto importante para implementação. Temos um local para começar a trabalhar e ir além. Há um bom número de possibilidades e oportunidades. Mas precisamos sair da oportunidade e criar projetos de verdade. Vamos ver como isso vai funcionar nos próximos dois anos.

Qual sua opinião sobre a capacidade brasileira de produzir inovação?

Não conheço o sistema brasileiro em profundidade e não saberia dizer exatamente quais são os pontos fortes e as fraquezas de vocês. Mas qualquer país sempre pode melhorar. Temos sempre de olhar para aspectos locais, como a quantidade de investimentos, a infraestrutura, as instituições do sistema de inovação. Mas é importante também outros fatores ‘soft’ da sociedade, como é o caso do empreendedorismo. Numa sociedade que valoriza o empreendedorismo, as pessoas sentem-se estimuladas a responder perguntas, o sistema de educação tem um foco maior na resolução de problemas. São coisas que precisam ser desenvolvidas para ter uma sociedade inovadora. E é importante que cada um na sociedade sinta que tem a chance de fazer alguma coisa para ajudar.

Como é a experiência da Suécia em estimular empresas a investir em Pesquisa e Desenvolvimento?

Há uma grande diferença entre Brasil e Suécia. A Suécia tem um mercado interno pequeno e nossas empresas tiveram de se tornar globais. Para chegar lá, precisaram se esforçar para serem as melhores, tiveram de competir com empresas de todas as partes do mundo. E a Suécia não é exatamente o país com os menores custos do mundo... Em muitos casos, a pesquisa e o desenvolvimento foram fundamentais para sermos competitivos. Com a globalização, e com outras empresas indo para o mercado brasileiro, as empresas brasileiras também vão perceber que precisam elevar o nível para manter seu espaço no mercado interno e também se tornarem globais. Muitas empresas terão de fazer isso por causa da globalização.

Por que o Brasil atrai centros de pesquisa e desenvolvimento de grandes empresas?

Porque o Brasil tem um mercado grande e atraente. Muitos países têm um enorme potencial de crescimento e muitas empresas querem fazer parte disso. É o caso dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).Que setores inovadores são considerados prioritários pela Vinnova?


A Vinnova financia inovações como foco em sustentabilidade. Qual é o conceito de tecnologia sustentável adotado pela agência?

Precisa ter uma base econômica porque temos que estar aptos a competir no mercado. Sem isso, não vai dar certo, não importa o quanto a tecnologia seja amigável para o ambiente ou interessante do ponto de vista social. Mas não seremos competitivos no longo prazo se não nos preocuparmos com o meio ambiente, se não nos preocuparmos com as pessoas. Não é só uma questão de cumprir a legislação ambiental, de quanto se pode ou não poluir o ambiente. Trata-se de fazer todo o possível para minimizar os efeitos. Eu penso que isso será no futuro um sistema autorregulado. Já estamos vendo na Suécia e na Europa que as empresas vão além do que os governos colocam como obstáculos. Eles sabem que os consumidores, preocupados em serem bons cidadãos, não vão se interessar por comprar seus produtos. Sustentabilidade para mim é ter produtos competitivos. Você tem que produzir respeitando alguns limites. Não pode desperdiçar energia, não pode usar matérias que não façam bem à natureza, deve usar materiais que possam ser reciclados. Isso tem um sentido econômico também: usar muita energia e matéria-prima custa caro. O custo da energia e da matéria prima está aumentando. É algo que se autorregula: poupar energia ajuda a poupar dinheiro. E produtos mais baratos são mais competitivos.

Que tipos de tecnologias são financiados pela Vinnova? 

Estamos trabalhando, por exemplo, em redes inteligentes. Elas são um meio de regular o sistema elétrico, a distribuição do sistema de energia. Eu, como consumidor, posso decidir quando vou usar a máquina de lavar pratos e todas as coisas que você liga e desliga na sua casa, de forma a usar energia quando ela é barata e não usá-la num momento em que ela custa mais caro. Outro projeto: você sabe que temos muitos cabos antigos enterrados no piso das grandes cidades. Eles contêm muitos materiais, metais basicamente. Nós estamos trabalhando em um projeto para reutilizar esses velhos cabos, tornando-os úteis, em vez de deixá-los lá. Há sistemas de supervisão tráfego dotados de soluções inteligentes em tecnologia da informação. Controlando o tráfego você reduz o uso de petróleo.

Como a Vinnova ajuda empresas tecnológicas nascentes?

Trabalhamos numa fase muito inicial, fazendo uma ponte entre a pesquisa acadêmica e a empresa. Damos uma pequena contribuição para que executem projetos de pesquisa e desenvolvimento, para verificar suas necessidades de fazer parte de redes. Mas não colocamos dinheiro nas empresas. Há outras organizações do governo e instituições privadas que financiam empresas nascentes. Nosso papel é financiar projetos que articulem o setor privado e a academia.

Que setores inovadores são considerados prioritários pela Vinnova?

Nós priorizamos áreas em que a Suécia tenha chance de se tornar e se manter competitiva. Observe que as empresas estão se transformando - me refiro a empresas de tecnologia de informação, de transportes, de eletricidade – e essa transformação está permitindo que elas se aproximem cada vez mais, porque você vê um mesmo tipo de tecnologia sendo usado por vários setores. Temos quatro grandes prioridades: cidades sustentáveis; assistência médica do futuro; sistemas de produção competitivos; e a próxima geração da sociedade da informação. Também temos grupos focais que discutem o que temos que fazer para cumprir essas missões: como lidar com o envelhecimento da população, como garantir o tipo certo de assistência médica à população idosa, por exemplo.

fonte: Revista Pesquisa FAPESP

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