domingo, 16 de janeiro de 2011

Crianças fazem ciência, publicam um artigo científico e descobrem as abelhas ao mesmo tempo


De Munique/Alemanha

Abelhas podem aprender a reconhecer o seu ambiente para achar flores. Isso não foi descoberto em um laboratório por cientistas com doutorados e pós-doutorados, mas por um grupo de 25 crianças da cidade de Blacktown, na Inglaterra, acompanhadas pelo neurocientista Beau Lotto do University College London.

Esse trabalho resultou em um artigo cientifico, escrito pelas crianças e publicado na revista científica Biology Letters.

As crianças inventaram experimentos, junto com o seu professor, o Dr. Lotto, para testar a habilidade das abelhas a aprender e a reconhecer cores, formas e padrões. A turma construiu uma ‘arena de abelhas’: uma caixa de Plexiglas, com uma luz de um lado, iluminando um painel com desenhos. Os desenhos representavam 16 círculos coloridos de azul ou de amarelo, organizados em quadrados. As crianças inseriram 5 abelhas na caixa, primeiro para ‘treina-las’ a reconhecer os círculos que continham água com açúcar (parecido com o néctar das flores) ou água com sal (nada gostoso para as abelhas). Numa serie de experimentos onde mexeram com as posição dos círculos coloridos, as crianças testaram a habilidade das abelhas a reconhecer os círculos que continham água com açúcar, usando a cor, ou a posição dos círculos como sinal.

Os resultados mostram que as abelhas podem aprender a reconhecer os círculos com ‘néctar’ e que elas tem preferências – algumas preferem usar a posição dos círculos, outras a cor, para reconhecer os círculos com néctar.

É a primeira vez que um trabalho feito, e escrito (na língua simples e colorida delas) por crianças é publicado em uma revista científica. Esse é um grande passo no sentido da ‘liberalização’ do processo científico. É importante por duas razões.

Primeiramente, esse trabalho mostra que fazer ciência é acessível a todos, e, na minha opinião, que todos deveriam ter a oportunidade de mexer com ciência desde cedo na infância. No resumo do artigo, Dr. Lotto lembra que a ciência é muito parecida com o jogo: é simplesmente um jogo com regras. “Considerada desse ponto de vista, a educação cientifica se torna um jeito mais iluminado e intuitivo de fazer perguntas e inventar jogos para responder a essas perguntas”, ele escreve.

Segundo, fazer ciência é bagunçado, é isso que é bonito, e é isso que precisa ser mostrado ao publico. “A publicação de um artigo cientifico inteiramente feito e escrito por crianças mostra o que é possível se celebramos a incerteza. O verdadeiro trabalho cientifico é cheio de incerteza – e por isso que é tão emocionante” explica Dr. Lotto, numa matéria publicada no site da Royal Society do Reino Unido. 

Vale muito a pena ler o artigo publicado na Biology Letters – é ciência simples, linda, lúdica, escrita por crianças de 8-10 anos. Da para perceber que elas se divertiram muito fazendo esse trabalho, “Ciência é legal e divertido porque você faz coisas que ninguém fez antes”, eles escrevem. Aprenderam um bocado, também, e sobretudo entenderam o que é “fazer ciência” – o que a maioria das pessoas não entende...

*Juliette Savin é bióloga e especialista em divulgação científica.

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