Do Rio de Janeiro
Divulgação / UniRio |
Eles visitaram os diferentes acervos de um lado a outro do Atlântico, analisaram fósseis e promoveram uma revisão taxonômica da espécie, para concluir: "Achamos que houve uma única espécie de mastodonte nas planícies da América do Sul, o Notiomastodon platensis, e outra, com características diferentes, na cordilheira dos Andes."
Para chegar a esta conclusão, o grupo primeiro fez um levantamento histórico, analisando a literatura existente sobre o assunto em todo o mundo, para depois partir em busca do material propriamente dito: os fósseis de coleções guardadas no Brasil, Uruguai, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Colômbia, além de atravessar o Atlântico até países como a França. "O importante foi a possibilidade de viajar e estudar todas as coleções in loco, para dessa forma poder analisar esse material como um todo. Vimos que havia divergências entre os artigos publicados e o material analisado, assim como erros de identificação e de interpretação morfológica", conta Avilla. O trabalho faz parte da dissertação de mestrado de Dimila Mothé, no Museu Nacional. Dimila é integrante da equipe do Laboratório de Mastozoologia, da UniRio.
Elefantes, mamutes e mastodontes pertencem todos ao grupo dos proboscídeos. Ou seja, mamíferos paquidermes, com apêndice nasal em forma de tromba. Deles, o único que ainda habita as savanas e florestas do planeta é o elefante. "Procuramos identificar, na árvore evolutiva, os grupos sul-americanos e saber quantas espécies havia nas planícies do continente", fala Avilla. Foi assim que chegaram à conclusão de que as planícies sul-americanas eram povoadas pelo Notiomastodon platensis, a espécie que viveu durante o pleistoceno, entre 2,6 milhões a 11 mil anos atrás. A espécie andina é o Cuvieronius hyodon, que habitou as cordilheiras no mesmo período.
"O Notiomastodon platensis esteve presente em todos os estados brasileiros. Só não foram encontrados no Tocantins, o que não quer dizer que não houvessem habitado a região. Para tirar a prova, nossa equipe tem realizado expedições anuais ao Tocantins e, apesar de encontrar vários fósseis típicos do período pleistoceno, como tatus gigantes, até momento não encontramos nenhum resto de mastodonte", admite o pesquisador.
Segundo Avilla, a grande variação morfológica da espécie pode ter levado aos equívocos anteriores. "As presas – o marfim – são bastante variadas e por isso usadas para definir espécies diferentes. Na verdade, as características mudam quando se trata de animal jovem, adulto ou senil e se era macho ou fêmea. Essas variações são exatamente iguais às que ocorrem nos elefantes atuais, tanto asiáticos quanto africanos. Além disso, podem variar ainda de acordo com populações geograficamente distintas", diz.
Dimila Mothé analisa material fóssil em Buenos Aires, Argentina |
A partir de outro auxílio recebido por Avilla junto a FAPERJ, um APQ 1, no próximo ano os pesquisadores deverão voltar a Europa, com escala na Dinamarca, onde analisarão os fósseis coletados no Brasil pelo pioneiro da paleontologia no país, Peter Wilhelm Lund. "Lund foi um naturalista que esteve no Brasil no início do século XVIII, coletando fósseis de diferentes mamíferos, material que foi enviado para o Museu de História Natural da Dinamarca, para estudos. Em 1833, Lund passou a viver no Brasil, até sua morte, em Lagoa Santa (MG), local onde realizou suas mais importantes pesquisas e descobertas. Agora, queremos conhecer e analisar de perto as peças que ele encontrou."
fonte: Boletim FAPERJ
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