De Belo Horizonte
De 25 a 27 de novembro próximos passados realizou-se na Universidade Estadual de Maringá, PR, dois eventos simultâneos coordenados pelo Prof. Marcos César Danhoni Neves, ex-Secretário Regional da SBPC, reconhecido divulgador da ciência e autor de vários livros de ensino e de divulgação da astronomia. Os eventos foram o I International Meeting on Art-Science e o III Workshop Paranaense de Arte-Ciência.
Não tratarei aqui destes extraordinários eventos, que contaram com o apoio da SBPC e do governo do Paraná, mas de algo que ocorreu durante a minha estada em Maringá, por ocasião dos mesmos, e que, como veremos, está com eles muito relacionado.
Recebi o honroso convite do Marcos para participar de uma das mesas redondas com a apresentação de uma palestra intitulada "Uma nova visão do universo", onde abordei os avanços da cosmologia moderna e suas limitações atuais.
O primeiro personagem da estória aparece no caminho entre o aeroporto e o hotel. Marcos chamou a minha atenção para a Catedral Basílica de Maringá cuja construção de forma cônica é monumental e nos causa admiração.
Imediatamente fiz o propósito de visitá-la, assim que terminasse as obrigações que haviam me levado a Maringá.
Na visita, admirei o edifício e a minha primeira curiosidade foi a respeito da altura da construção. Um funcionário da igreja me informa: são 114 metros de construção mais 10 metros de uma cruz assentada sobre o vértice do cone, totalizando 124 m! O diâmetro externo da construção, na base, é de 50 m.
Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Glória, Praça da Catedral, Av. Tiradentes, 500, Centro, a catedral de Maringá, no Paraná. (Crédito: Domínio público) |
Catedral de Maringá, em outra perspectiva. (Crédito: Domínio público) |
O foguete Saturno V em sua "praça" de lançamento. (Crédito: NASA) |
Saturno V, em outra perspectiva. (Crédito: NASA) |
Confesso --- e o faço com certo constrangimento ---, não acreditei. Corri então ao "pai dos burros" moderno, a internet. E, obviamente, o Marcos estava certo. O projeto arquitetônico era de 1958 e fora inspirado no projeto espacial Sputnik da antiga União Soviética. A inspiração ocorrera a partir da palavra "Poustinikki", que significa, apropriadamente, "peregrino que se afasta do mundo para ficar mais perto de Deus". A partir dela, uma simples troca de letras leva a "Spoutinikki", ou, Sputnik!
A pedra fundamental foi lançada em 15 de agosto de 1958, e a construção prolongou-se de 1959 a 1972.
Podemos dizer que, quase profeticamente, as dimensões da construção
prenunciavam as dimensões envolvidas na missão Apolo, que se concretizariam
cerca de 10 anos após o projeto da catedral, realizado pelo arquiteto José Augusto Belucci.
Vemos aí um excelente exemplo de diálogo salutar e instigante entre religiosidade, ciência e tecnologia. Um projeto arquitetônico de uma imponente catedral inspirado num, igualmente imponente, projeto científico e tecnológico. E que extrapolando os limites de sua época e inspiração --- os Sputniks --- antecipava a grandiosidade do futuro --- as Apolos.
*Domingos Sávio de Lima Soares é físico, astrônomo e professor do departamento de física da UFMG.
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