segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sobre regras de boa conduta em seminários

Por Thiago Gomes de Mattos
De Stuttgart - Alemanha

Todo mundo em algum momento da vida já teve que assistir a pelo menos um seminário. Muitos já tiveram que apresentar um. Ou vários. Aqueles que, assim como eu, escolheram a carreira acadêmica, participam de apresentações orais frequentemente e, algumas vezes por ano, precisam também apresentar suas palestras, seja como requisito obrigatório de algum cronograma de trabalho ou estudo, seja para divulgar sua produção científica. Faz parte do nosso dia-a-dia e não podemos fugir disso.

E comigo não é diferente. No grupo onde trabalho há seminários semanais. No instituto que hospeda meu grupo, há vários mais. Ou seja, eu acabo participando de algo que gira em torno de 2 seminários por semana, pelo menos. O que é bom, em princípio, pois isso acaba agregando uma certa "cultura geral" dentro da minha profissão.

Porém, como a maioria de vocês deve bem saber, há seminários e seminários. Há aqueles dos quais você sai uma pessoa melhor do que a que entrou no auditório. E há aqueles dos quais você sai carregando uma mala sem alça completamente cheia de arrependimento.

Com base em observações nessa minha pouco mais de uma década de profissão, decidi fazer uma compilação do que eu chamo de "regras de boa conduta" para seminários. Como minha área acadêmica é a Física, já adianto que as dicas aqui serão "tendenciosas" para esse lado, mas acredito que a maioria vai acabar valendo para outras áreas também.

Vale ressaltar também que o conteúdo a seguir não consiste em regras universais, mas sim o que eu achoque constitui um bom conjunto de normas de boa conduta. Ou seja, fique à vontade para discordar. Ou concordar.

Então vamos lá.

Conteúdo

A escolha do tema do seminário é de óbvia importância e deve ser feita primordialmente com base no perfil do público-alvo. Pesar bem o grau de profundidade e o nível técnico da palestra é fundamental para garantir a atenção e o interesse da audiência. Evite entrar em detalhes muito técnicos se o público é mais leigo; da mesma forma, evite explorar conceitos muito básicos se a audiência já tem algum backgrounddo assunto.

Eu sei que isso parece bastante óbvio mas, acreditem, há muitos palestrantes por aí que não preparam seu seminário tendo em conta o perfil da audiência. E o resultado geralmente é desastroso.

Tempo

Um bom seminário dura entre 35 e 45 minutos. 50 minutos é o limite máximo e, mais do que isso, a apresentação certamente ficará cansativa para o público. Se você não consegue transmitir sua ideia em menos de 50 minutos, então há algo errado: ou você não é conciso o suficiente ou você dimensionou mal o conteúdo a ser apresentado.

Slides

Tenha sempre em conta um número razoável de slides. Eu recomendo algo entre 20 e 25, para que haja tempo suficiente para explorar cada um deles sem exceder o tempo ideal da apresentação. Evite textos longos, a menos que haja alguma citação verdadeiramente essencial e, neste caso, faça sua leitura em voz alta durante a apresentação.

Prefira estruturar seus slides em formas de tópicos curtos, com gráficos, diagramas e figuras em geral. E lembre-se sempre de que tudo tem que estar bem legível: veja se seus gráficos estão bem formatados, com os labels dos eixos, numeração da escala, curvas, pontos, etc. bem visíveis.

Outro ponto importante (esse vai pra turma das exatas): evite mostrar passos mais técnicos de cálculos ou algoritmos computacionais, a menos que esse seja mesmo o objetivo do seu seminário. Ninguém quer, durante seu seminário, entender cada passo fundamental daquela conta que você gastou meses para fazer. Passe a ideia geral e discuta detalhes posteriormente, em particular, com eventuais interessados.

Animações tipo Power Point, com barulhinhos e texto aparencendo letra por letra, demorando 3 minutos para concluir uma frase inteira? Nunca! Já estruturas de tópicos em que aparece um item por vez estão ok. Equações que vão evoluindo, aparecendo termo por termo também estão permitidas. Mas sem abusar, porque cansa.

Postura

Mais uma vez correndo o risco de parecer óbvio, digo: apresente sua palestra de frente para o público. Acreditem: ainda tem muito marmanjo por aí que apresenta seminário olhando para a projeção, de costas para a audiência.

É importante também medir o seu tom de voz. Falar muito baixo é pior que cantar canções de ninar e o resultado vai ser um completo desinteresse da audiência. Entre um slide e outro, eleve um pouco o tom de voz, retornando em seguida ao nível normal; essa modulação ajuda a tirar a monotonia da apresentação.

Audiência

As regras acima aplicam-se para palestrantes. Mas a audiência também precisa seguir certas regras de conduta para que a apresentação siga de forma suave e contínua. A mais importante neste caso é: somente interrompa o palestrante com alguma pergunta se julgar o esclarecimento essencial para o entendimento do restante da apresentação. Caso contrário, isto é, se for uma pergunta marginal ou sobre algum detalhe específico cuja obscuridade não vá comprometer o bom entendimento do conteúdo, guarde a pergunta para o final ou para discutir em particular com o palestrante.

Friso: lembre-se sempre que uma pergunta feita publicamente deve ser ou indispensável ou de interesse geral da audiência. Ou os dois. Caso contrário, anote sua dúvida ou comentário e pergunte ao final. Interrupções desnecessárias atrapalham a linha de raciocínio do palestrante e incomodam o restante da audiência que não quer saber sobre aquilo.

Acho que por enquanto isso é tudo. Mas pode ser que eu ainda tenha me esquecido de alguma coisa e, neste caso, este post poderá ser atualizado.

*Thiago gomes de Mattos é físico e assistente de pesquisa no Max Planck Intitute for Inteligent Systems em Stuttgat - Alemanha.

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