sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Projeto usa a fotografia científica para registrar a flora e fauna da Mata Atlântica

Por Débora Motta 
Do Rio de Janeiro

Cobra coral se alimenta de uma anfisbênia
na Mata Atlântica. Créditos: BioCenas/UERJ
A Mata Atlântica é o bioma mais rico em diversidade de espécies por hectare e o mais ameaçado de todo o continente. De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, é considerado um dos 34 hotspots mundiais de biodiversidade. Por definição, o termo hotspot é usado para denominar as áreas que, apesar de ter perdido pelo menos 70% de sua cobertura vegetal original, abrigam, juntas, mais de 60% de todas as espécies terrestres do planeta. Para registrar imagens da fauna e da flora que podem fazer diferença para o estudo e a preservação desse bioma, o professor Antonio Carlos de Freitas coordena a implementação do Núcleo de Fotografia Científica Ambiental BioCenas – nome que significa “imagens da vida” –, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O projeto foi contemplado pela FAPERJ, com o edital de Apoio ao Estudo da Biodiversidade do Estado do Rio de Janeiro.


O objetivo do núcleo, que deve ser inaugurado no primeiro trimestre de 2012, no Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag/Departamento de Biofisica e Biometria/Uerj), é usar a fotografia científica ambiental como ferramenta para integrar e dar suporte às pesquisas sobre a biodiversidade da Mata Atlântica que estão em curso no Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (Laramg/Uerj). Para isso, o BioCenas contará com um grande banco de dados, que vai reunir todas as imagens da Mata Atlântica geradas no escopo dessas pesquisas. “Temos milhares de imagens digitais de diversas espécies da flora e da fauna da Mata Atlântica, que estão sendo identificadas para ser inseridas no banco de dados, que passa por constante atualização”, conta o físico e fotógrafo Antonio Carlos de Freitas.

Retratos da Mata Atlântica

Uma vez implementado, o Núcleo de Fotografia Científica Ambiental – BioCenas contribuirá no atendimento à demanda de pesquisadores, professores e alunos de todos os níveis de formação, além do público interessado nas questões ambientais. “O banco de dados será um instrumento importante para a pesquisa e a divulgação científica das informações visuais sobre a Mata Atlântica e atenderá pesquisadores da Uerj e de outras instituições, interessados na troca desse conhecimento”, diz o professor. “A partir das imagens da flora e fauna, coletadas em campo e arquivadas no banco de dados, pretendemos reforçar o nosso compromisso em relação à caracterização dos ecossistemas do bioma Mata Atlântica”, completa Freitas.

Mariposa: asas com desenho em formato de olhos são uma estratégia para dissuadir os predadores naturais. Créditos: BioCenas/Uerj

Entre as imagens que integram o banco de dados estão fotos de espécies endêmicas da Mata Atlântica, como o mico-leão dourado, e outras que registram comportamentos de animais que, até então, só haviam sido relatados na literatura, com pouca ou nenhuma evidência visual. “Alguns comportamentos de animais ainda não tinham sido registrados em imagens de forma detalhada, como foi o caso de uma foto que revela o exato momento em que uma cobra coral (Micruruscorallinus) se alimenta de uma anfisbênia (Leposternon scutigerum), animal conhecido popularmente como cobra-cega. Outro exemplo é uma sequência visual que mostra uma espécie de gastrópode – um tipo de molusco, como o caramujo e a lesma – carnívoro predando outro gastrópode”, detalha o pesquisador.

As imagens reunidas no banco de dados do Laramg/Uerj são continuamente obtidas durante expedições científicas em diversos pontos da Mata Atlântica, incluindo Unidades de Conservação Ambiental, como as Reservas Biológicas União e Poço das Antas e os Parques Nacionais de Itatiaia, da Restinga de Jurubatiba e Serra dos Órgãos, entre outros – com a devida autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) –, e também o campusavançado da Uerj na Ilha Grande, que é o Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads). “Temos imagens que revelam detalhes de todos os ecossistemas da Mata Atlântica”, ressalta Freitas. Ele lembra ainda que o processo não agride os animais. “Realizamos uma ‘coleta fotográfica’, que dispensa a captura dos animais para estudo”, acrescenta.

Até o fim de 2012, as imagens do banco de dados estarão disponíveis na Internet a todos os interessados, no escopo de outro projeto contemplado pela FAPERJ – “Biodiversidade para todos” –, desta vez pelo edital de Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia. Para isso, as imagens estão sendo identificadas com a colaboração de pesquisadores das mais diversas áreas. “A ideia deste projeto é fomentar, através das imagens disponibilizadas na base de dados on-line, discussões relacionadas à biodiversidade da Mata Atlântica, para motivar a integração da sociedade civil e científica em busca de propostas para a conservação do meio ambiente”, adianta o professor.

Ninfa de uma esperança, inseto que se assemelha a  um grilo, posa nas flores roxas de uma quaresmeira. Créditos: BioCenas/Uerj

Outra atividade relacionada à proposta do núcleo BioCenas é a formação de novos fotógrafos na área ambiental. Nesse sentido, os professores Antonio Carlos de Freitas e Marcia Moura Franco vêm ministrando a disciplina Fotografia Científica Ambiental, desde 2005, para diversos programas de pós-graduação, como os de Biologia, Ecologia e Evolução e Biologia Vegetal da Uerj. A disciplina também é ministrada por eles em outras instituições, como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), entre outras que ainda estão sendo negociadas. “Para difundir a prática da fotografia científica ambiental, levamos os alunos para imersão de uma semana, no meio do mato, e ensinamos desde as noções básicas da fotografia até aspectos mais avançados”, conta.

Para Freitas e sua equipe de trabalho, a fotografia, com sua linguagem própria, transcende ao registro visual, quando aplicada à ciência, e passa a ser um dado científico obtido através de metodologias e planejamentos experimentais. “Diversas espécies da Mata Atlântica correm o risco de ser extintas sem nem mesmo ter sido registradas. Fica cada vez mais evidente a necessidade de inventários visuais que detalhem a biodiversidade do bioma”, destaca o pesquisador, que coordena, há cinco anos, pesquisas que utilizam a fotografia científica ambiental como metodologia.

O projeto de Implementação do Núcleo de Fotografia Científica Ambiental - BioCenas conta com a participação efetiva da bióloga Heloisa Carneiro da Rocha Guillobel, que é doutora em Ciências Biológicas (Genética), da bióloga Marcia Moura Franco, que é mestre em Educação, Gestão e Difusão em Biociências e da doutora em Química Lavínia de Carvalho Brito – todas da Uerj –, além de vários alunos que estão desenvolvendo suas atividades de pesquisa no âmbito da fotografia científica ambiental.

Veja mais imagens produzidas pelo Núcleo de Fotografia Científica Ambiental - BioCenas
fonte: Boletim FAPERJ.

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