Em uma apresentação via internet transmitida da Suíça, sede do Cern (Centro Europeu para Pesquisas Nucleares), os pesquisadores apresentaram dados dos experimentos Atlas e CMS, que tinham como um dos principais objetivos fazer justamente a caçada a essa peça fundamental do chamado modelo padrão da física de partículas.
Embora os sinais pareçam ser compatíveis com o bóson e venham de dois instrumentos diferentes, ninguém ainda consegue dizer que a tal "partícula de Deus", apelido dado a ela pelo prêmio Nobel Leon Lederman, de fato foi descoberta.
"Ficamos muito animados, mas ainda não dá para declarar vitória completa. Não porque nossas medições sejam ruins, ou porque sejamos incompetentes, mas porque ainda não atingimos a significância estatística necessária", explica Sergio Novaes, físico da USP e membro da equipe do CMS.
"Somente com mais tempo conseguiremos a quantidade de dados exigida para fazer a confirmação. Mas sabemos exatamente quanto tempo isso vai levar", conclui.
O prazo? Estima-se que até o final de 2012 haja massa de dados suficiente para confirmar se o sinal observado é mesmo o tal bóson. De toda forma, o fato de que dois instrumentos independentes ("hardware e software diferentes, eletrônica diferente, pessoal diferente", como diz Novaes) observaram a mesma coisa, mais ou menos na mesma faixa de energia, é um bom sinal.
Fábrica de partículas
O LHC (Grande Colisor de Hádrons, na sigla inglesa) explora o mundo das partículas acelerando prótons num imenso anel por meio de campos magnéticos e então fazendo-os colidir. A alta energia envolvida no choque gera uma miríade de partículas adicionais, que são então observadas por detectores instalados no interior dos experimentos.
O bóson de Higgs é a única peça que falta ser observada para completar o modelo padrão _teoria que reúne todas as forças e partículas da natureza, salvo a gravidade. Nenhum outro acelerador tinha potência suficiente para atingir o nível de energia requerido para descobri-lo. O LHC é o primeiro a chegar lá.
Aparentemente, a massa do Higgs é de aproximadamente 125 vezes a de um único próton (ou, no linguajar dos físicos, 125 giga-elétron-volts).
Cautela
"Esse anúncio é excitante do ponto de vista da física, mas é preciso ser cuidadoso e não dizer que isso significa propriamente uma descoberta", afirma Ronald Shellard, físico do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), vice-presidente da SBF (Sociedade Brasileira de Física) e líder do grupo de trabalho que negocia a entrada do Brasil no Cern.
"O significado desses resultados é ainda muito preliminar", comenta Gustavo Burdman, físico teórico da USP não envolvido com a pesquisa. Ele destaca, contudo, que a configuração é parecida com o que se esperaria. "Esse valor de massa é bastante compatível com o esperado. Além disso, o número de eventos observados seria compatível com a precisão para o número de eventos vindo do decaimento de um Higgs dessa massa no modelo padrão."
Shellard resume a história: "É o tal negócio: você viu de esgelha a cara do monstro. Agora tem pouca chance de ele não estar lá."
Caso seja confirmado, o resultado encerra uma era na física. "Isso de certa maneira fecha, e com chave de ouro, o modelo padrão", diz Shellard. "Agora não tem escapatória, vamos ter de explorar além dele."
Com isso o LHC abre uma etapa em que a física experimental volta à dianteira e passa a fornecer dados que precisarão ser interpretados do zero pelos teóricos.
fonte: Site da SBF
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