Do Rio de Janeiro
Por Gutemberg Brito/Comunicação |
Desde então, já apresentou resultados positivos em testes com animais – 70% de imunização em camundongos – e, ainda em 2011, será testada em humanos. Além de estar se mostrando eficaz para promover a imunização contra casos de esquistossomose, a vacina também poderá evitar casos de outras doenças causadas por helmintos, como a fasciolose, doença do gado de corte que tem um parasita causador semelhante ao da esquistossomose. O estudo contou com recursos da FAPERJ, por meio do edital Apoio ao Estudo de Doenças Negligenciadas e Reemergentes, além de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Como em qualquer outra vacina, a técnica consistiu em utilizar um antígeno – substância que estimula a produção de anticorpos – para fortalecer o sistema imunológico do potencial hospedeiro contra o ataque do parasita. No caso, foi a proteína SM-14, obtida pelo grupo de pesquisadores da Fiocruz e colaboradores coordenado por Miriam Tendler, a partir do próprio Schistosoma mansoni, o parasita causador da esquistossomose. Proteína essencial para a sobrevivência do parasita, a Sm-14 é propriedade intelectual da Fiocruz e faz parte de um grupo conhecido como fatty acid-binding proteins (proteínas ligadoras de ácidos graxos). “No início dos anos 1990, a SM-14 foi eleita pela OMS como um dos seis antígenos prioritários para o desenvolvimento da primeira vacina contra a esquistossomose, ao lado de quatro propostas americanas, que não foram para frente, e de uma francesa, que não tem a mesma abrangência que a nossa, pois é restrita à esquistossomose”, conta.
A proteína SM-14: antígeno da vacina pode imunizar contra esquistossomose e fasciolose |
A possibilidade de abrir o leque, tornando a vacina um produto da indústria veterinária em um futuro próximo, ajudou a impulsionar, indiretamente, o desenvolvimento da substância também para humanos. Uma parceria que envolve o licenciamento da exploração de patentes foi fechada entre a Fiocruz e a indústria brasileira Ourofino Agronegócio. “Estamos às vésperas da realização de testes de segurança da vacina em humanos, que deve durar cinco meses. Depois dessa etapa, será importante que a vacina transponha os limites da academia e seja produzida em escala industrial, para entrar no mercado”, avalia. “Será a primeira vacina desenvolvida com tecnologia totalmente brasileira. Isso dará ao país autonomia para prevenir a esquistossomose, adotando a prevenção como medida prioritária, e não apenas o tratamento. Será uma vitória nacional e um investimento social de impacto global”, conclui Miriam Tendler.
Sobre a esquistossomose e a fasciolose
Conhecida popularmente como “barriga d’água”, a esquistossomose é considerada uma doença negligenciada, por ser típica de países tropicais em desenvolvimento e não receber atenção adequada da indústria farmacêutica para a produção de ferramentas para a sua erradicação. Ela é transmitida através do contato direto com as larvas do parasita em águas não tratadas. Embora o homem seja seu hospedeiro definitivo, o parasita necessita de caramujos de água doce como hospedeiros intermediários. O planorbídeo, caramujo hospedeiro do Schistossoma mansoni, verme que causa a esquistossomose, habita barragens, rios, lagos e terras irrigadas de qualquer parte do país.
A esquistossomose compromete a saúde em geral e a capacidade de aprendizado, além de provocar diarreia, dores de cabeça, vômitos e sangramento do sistema digestivo. No Brasil, os focos da doença, antes concentrados principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, agora estão em expansão também para outros estados. Segundo a OMS, 747 milhões de pessoas vivem sob o risco da infecção causada pelo parasita Schistosoma mansoni em 56 países das Américas, da África e Ásia. Já a fasciolose hepática é uma das mais importantes doenças que atingem os ruminantes, gerando constantes prejuízos aos produtores rurais de todo o mundo, devido à mortalidade do gado e à redução na produção de carne e leite.
fonte: Boletim FAPERJ
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