Por Luiz Lopes*
De Divinópolis/MG
Milamor, de Livia Garcia-Roza, é o primeiro romance da escritora brasileira que li. Por indicação de um amigo, como sempre, fui lá conferir. Encontrei um universo ficcional delicado e suave. Nada de um trabalho rigoroso com a linguagem, mas antes uma linguagem simples, daquelas que facilitam a leitura e aquilo que é contado.
Mas essa facilidade aparente pode pegar o leitor menos atento e dar uma rasteira nele, já que por trás da suavidade há sempre algo sendo dito nas entrelinhas do texto, algo que está queimando enquanto o fluxo narrativo acontece. Livia consegue captar em seu romance algo delicado, o amor na idade madura.
A história é de Maria, uma mulher que vai completar sessenta anos e pretende escapar da solidão que a cerca. Entre uma lembrança e outra, Maria é pega por uma nova paixão, o passado e o presente se misturam. Para conseguir viver essa paixão madura, Maria, antes, tem que se entregar ao seu passado como forma de entender melhor quem ela é/está sendo. Nessa entrega descobrimos a menina, filha de imigrantes alemães, numa casa em que reinava o silêncio e o interdito. É ainda nessa casa onde os afetos ficavam reclusos em cada um que Maria escuta, numa confusão de sons, a mãe da menina Dolores a chamar sua filha de Milamor (mi amor).
Essa palavra de infância capta o registro de um afeto negado, de uma vontade de se entregar aos sentimentos de amor, paixão, carinho. Milamor foi o primeiro romance de Livia e certamente abre caminho para outros que pretendo ler, já que sua literatura conjuga muito bem a simplicidade e a complexidade da linguagem e, por extensão, da experiência humana.
*Luiz Lopes é professor de lingua portuguesa do CEFET/MG e edita o blog Caderno de Caligrafia.
fonte: Caderno de Caligrafia
Livia é mestra nas entrelinhas,o que requer leitores sensíveis.
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